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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Biodefensivos ganham espaço sobre agrotoxicos


Camila Souza Ramos 

Se até então a imagem do controle biológico era mais ligada às lavouras orgânicas e de agricultura familiar, o setor já começa a se focar no desenvolvimento de produtos voltados para a agricultura comercial


O país que mais consome agrotóxicos no mundo está atraindo investimentos agora para a área de biopesticidas, desde as menores empresas até as gigantes multinacionais de tecnologia agrícola. Se até então a imagem do controle biológico era mais ligada às lavouras orgânicas e de agricultura familiar, o setor já começa a se focar no desenvolvimento de produtos voltados para a agricultura comercial, como forma de complementar e reduzir a aplicação de produtos químicos para o controle de pragas.

As empresas que desenvolvem biopesticidas registram hoje apenas 1% do total de faturamento do setor de defensivos químicos - no ano passado, isso representou R$ 97 milhões dentro dos R$ 9,7 bilhões que o segmento faturou. Mas a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), estima que, em 15 anos, o setor represente entre 10% e 15% do faturamento total das agroquímicas e alcance uma receita anual de R$ 1 bilhão.

O novo nicho de mercado ganhou corpo no Brasil com a propagação na última safra da lagarta Helicoverpa armigera nas grandes culturas, como soja, milho e algodão. Apenas na pluma, os prejuízos causados pelo pequeno animal já somam R$ 10,7 bilhões. Como o País não tinha até então agrotóxicos contra a lagarta autorizados para a comercialização, muitos produtores buscaram soluções "alternativas" para combater a lagarta.

Para a próxima safra, o produtor Paulo Schmidt, de Barreiras (BA), separará 200 hectares de sua propriedade de 6,5 mil hectares para realizar apenas aplicações com produtos biológicos. Ele já os utiliza há anos, mas disse que pretende intensificar o uso, principalmente para combater a praga.

"A vantagem é que não agride o próprio ser humano que aplica, pode ter diminuição de custo na comparação com o químico e pode ter um ambiente mais equilibrado", observa o agricultor. Ele ressalta, porém, que ainda são necessários mais testes. "Tem que usar por um bom tempo para entender melhor."

Segundo Gustavo Hermann, presidente da ABCBio, a busca por produtos biológicos direcionados diretamente para o controle da Helicoverpa turbinou o faturamento das empresas em 30%. "A lagarta criou demanda gigantesca", atesta. O executivo acredita que "o controle biológico está entrando de vez na agricultura convencional" e vai quebrar "o mito de que o biológico é só para orgânica ou familiar".

Um dos cultivos comerciais que já usa biopesticida há anos é o do amendoim. O produto sofre no Brasil com a contaminação do fungo aflatoxina, que pode gerar intoxicação alimentar quando ingerido e pode ser inclusive cancerígeno e mutagênico. Sabendo do problema, a WilcoPeanuts, empresa norte-americana de processamento de amendoim, investiu no Brasil na montagem da empresa Biosphere com o objetivo de desenvolver um produto que combatesse esse fungo, que já está há dois anos no mercado nacional. "O mercado é promissor. A aflatoxina continua sendo problema e a produção de amendoim no Brasil vem crescendo", assinala Pedro Faria, diretor da Biosphere, que estima que a empresa pode triplicar seu faturamento neste ano.

Outra pequena empresa do setor é a Bug, que recebeu destaque no último Fórum Econômico Mundial entre as empresas mais inovadoras em tecnologia no mundo. A empresa tem crescido 50% por ano vendendo ovos de cinto tipos de vespas para o controle de pragas em soja, milho, algodão e feijão. O CEO da Bug acredita em uma agricultura livre de agrotóxicos. "Não acho impossível ter só controle biológico. Temos que atingir um ponto de equilíbrio que fique mais fácil controlar pragas, e o que dificulta muitas vezes é o inseticida, que mata todos os inimigos naturais e deixam só a praga", avalia.

Mesmo a Bayer Cropscience, gigante do setor de agroquímicos, também está dando seus primeiros passos no segmento biológico. "Decidimos investir porque vemos que os biológicos vão complementar, completar e proteger a solução química" para o controle de pragas, afirma Mauro Alberton, diretor de estratégia de culturas e portfólio da companhia. O primeiro passo foi adquirir as empresas AgraQuest e Prophyta GmbH, que haviam desenvolvido tecnologias de controle biológico. O segundo foi lançar no mercado brasileiro um fungicida e bactericida para as culturas hortifrúti, principalmente cebola, maçã e morango. O próximo passo, segundo Alberton, é registrar no Brasil produtos que já são utilizados no exterior. "Globalmente temos produtos para nematoides e vamos trazer essas novas soluções para o mercado brasileiro", assegurou.

Para Hermann, há espaço no mercado brasileiro de biopesticidas para as tradicionais empresas de agroquímicos, para as pequenas empresas e para fundos de investimento ou companhias de outros segmentos do agronegócio interessadas em ter um braço de atuação no ramo de defensivos. "Já há fundos de investimento entrando no setor. Isso só comprova esse potencial."

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